"Sobre o quadro uma espontânea curva circunscreve, sem jamais restringir, a mais brilhante das cores; uma linha interrompida, todavia única, encompassa matéria miraculosamente viva, como que transferida intacta da sua fonte. Na tela uma longa parábola, maleável e precisa, guia e controla cada seqüência, e pontualmente se fecha em seguida. Pense em qualquer filme de Rossellini: cada cena, cada episódio recorrerá em sua memória não como uma sucessão de planos e composições, uma mais ou menos harmoniosa sucessão de mais ou menos brilhantes imagens, mas como uma vasta locução melódica, um arabesco contínuo, uma única linha implacável que conduz pessoas em direção ao ainda desconhecido, abrangindo em sua trajetória um palpitante e definitivo universo."
(...)
"Com a aparição de Viagem à Itália todos os filmes repentinamente envelheceram dez anos; nada é mais impiedoso que a juventude, que essa inequívoca intrusão do cinema moderno, na qual podemos finalmente reconhecer aquilo que esperávamos vagamente. Com toda a deferência aos espíritos recalcitrantes, é isso que os choca e os incomoda, que reivindica a si mesmo hoje, é nisto em que a verdade reside em 1955. Aqui está o nosso cinema, daqueles de nós que já se preparam para fazer filmes (terei eu falado, talvez seja em breve); de início já sugeri algo que intriga o leitor: haverá uma escola Rossellini? e quais serão seus dogmas? Não sei se há uma escola, mas sei que deveria haver: primeiramente, para chegar a um entendimento do significado da palavra 'realismo', que não é alguma demasiadamente simples técnica de roteirização, nem também um estilo de mise en scène, mas um estado de espírito: que uma linha reta é a distância mais curta entre dois pontos."
Jacques Rivette, Lettre sur Rossellini, Cahiers du Cinéma n° 46, abril 1955
sábado, 9 de maio de 2009
Viagem à Itália (1954) - Roberto Rossellini
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