sexta-feira, 15 de maio de 2009

Cabeças Cortadas (1970) - Glauber Rocha



"Cabeças Cortadas é um filme contra as ditaduras, é o funeral das ditaduras. Trato de um personagem que seria o encontro apocalíptico de Perón com Franco, nas ruínas da civilização latino-americana. Filmei nas pedras de Cadaqués, onde Buñuel filmou L'âge d'or. A Espanha é a Bahia da Europa. Cabeças Cortadas desmonta todos os esquemas dramáticos do teatro e do cinema. O cinema do futuro será som, luz, delírio, aquela linha interrompida desde L'âge d'or."

Glauber Rocha

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"O cinema é o instrumento que permite materializar o inconsciente, e é esse inconsciente materializado que aparece na tela. Cabeças Cortadas é um filme que deve ser visto através de símbolos e significantes. É um filme estruturalista. Reduzi toda a história ao significante. Temos mouros, índios, América Latina colonizada, Espanha moura, encontros de vários mundos. Díaz poderia ser a história de um louco que pensa que é ditador. (...) Cada vez que vejo o filme encontro novas explicações. Há todo um arco de sugestões. Deixei que o trabalho seguisse a estrutura do sonho, tal como Borges e em Shakespeare...

Sim, Shakespeare está presente em Cabeças Cortadas de forma pouco shakespeareana. Antes de fazer o filme li todas as obras, especialmente Macbeth e A Tempestade. Creio que também poderia definir o filme assim: uma viagem borgeana pela obra de Shakespeare."

Declaração de Glauber Rocha ao Jornal do Brasil, tomada por Cícero Sandroni em 8 de junho de 1979.

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"Com Cabeças Cortadas, rodado na Espanha em 1970, Glauber Rocha leva ainda mais longe a pesquisa sobre as raízes imaginárias surrealistas-barrocas de sua cultura, ampliando, aliás, o ponto de vista brasileiro para o conjunto da cultura latina, incluindo a hispanidade. A provocação, dessa vez, não é somente política, ao fazer uma análise (ao menos, um divã) da paranóia ditatorial, mas sobretudo estética: Glauber Rocha faz do godard-garrelismo, projetos intermináveis, cinema declarado a um só tempo estático e histérico."

Sylvie Pierre, Glauber Rocha, edições Cahiers du Cinéma, 1987

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