sábado, 9 de maio de 2009

O Rei dos Reis (1927) - Cecil B. DeMille



"A arte de DeMille é a mais distante que seja de uma exigência e uma mestria inspiradas. Ela nasce espontaneamente de lugar em lugar, formando oásis revigorantes ou patéticos em meio a um deserto que não é irritante, negativo, fechado como certas mise en scène pretensiosas, um deserto que é somente o cinema no ponto zero, terreno virgem onde tudo ainda pode florescer, mesmo uma graça. Daí que esse itinerário jamais desonesto pode passar por As Cruzadas, angustiante de nulidade, e por Sansão e Dalila, que permanece em seus melhores momentos como a eterna infância de uma arte que outros amadureceram, sem dúvida, e abriram a horizontes mais amplos, mas ela não é tão propagada, a infância da arte. DeMille não sabia em nada construir um espaço; a disposição dos volumes e sua apreensão, juntos à má qualidade constante da fotografia, fazem de seus planos, muito freqüentemente, uma pintura aplanada. Mas em suma, por que DeMille se preocuparia com o espaço? Um homem e uma mulher despidos à antiga, folhas de palmeiras balançando, uma paixão simples lhe são suficientes para estabelecer numa ordem de gestos um equivalente dos afrescos egípcios, dos quais a perspectiva se ausenta, mas não o coração."

Michel Mourlet, Hommage à Cecil B. DeMille, Cahiers du Cinéma n°97, julho 1959

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