sexta-feira, 15 de maio de 2009

Minha Noite Com Ela (1969) - Eric Rohmer







"(...) À possível exceção de Mankiewicz, solicitado pelo problema sem realmente conseguir resolvê-lo, os filmes de Rohmer são os únicos a considerar o diálogo como o próprio assunto de suas mise en scène e não como um complemento da ação. Em todos os outros cineastas, incluindo aqueles que, como Pagnol e Guitry, filmaram seu próprio teatro, a ação determina a palavra e a conduz: a ação lhe precede de alguma forma, mesmo que de uma palavra saia uma ação, porque é uma outra ação que então se desenvolve, de onde sairá uma outra palavra.

Em Rohmer ao contrário, o diálogo preexiste à ação. Profundamente, ele é em si mesmo ação: confrontação dialética em Minha Noite Com Ela, narrativa cavalheiresca em Perceval, o Gaulês. O deslocamento dos atores no espaço como o desenrolar dos eventos no tempo sustentam, prolongam, concretizam os movimentos do pensamento e da linguagem que formam o verdadeiro nó, central e dinâmico, da ação filmada.

Assim, compreende-se melhor de que forma uma contenda tão abstrata como um debate entre um cristão e uma marxista, em Minha Noite Com Ela, vira um fascinante episódio de cinema. E porque, quando Perceval diz, falando de si mesmo 'ele faz isso e aquilo' ao mesmo tempo em que o faz, nós não somos chocados nem pela terceira pessoa nem pelo pleonasmo. Nós assistimos não à mise en scène de uma ação comentada pela linguagem, mas à mise en scène da linguagem."

Michel Mourlet, Rohmer ou la mise en scène du langage, em La mise en scène comme langage, Henri Veyrier, 1987

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