sábado, 9 de maio de 2009

O Lírio Partido (1919) - David Wark Griffith



"A reputação de Griffith nos estudos de cinema é, embora um pouco exagerada, totalmente irrepreensível. Sem dúvida, o cinema americano (e mundial) seria bem diferente sem as suas diversas contribuições. O Nascimento de uma Nação e Intolerância são justificadamente, seus filmes mais célebres, lembrados pelo extraordinário tratamento dado ao roteiro e à montagem. Porém outro de seus filmes, Lírio Partido, de 1919, sempre se destacou como uma de suas melhores obras, sendo, com certeza, a mais bela de todas. Juntamente com Aves sem Ninho, o glorioso veículo de William Beaudine para Mary Pickford, Lírio Partido é um exemplo do que é conhecido em Hollywood como 'estilo singelo'. Este foi o ápice em termos de glamour fotográfico: os fotógrafos usaram todos os recursos disponíveis – pó-de-arroz, aparelhos especiais de iluminação, lentes besuntadas de óleo, até imensas cortinas de gaze transparente presas ao teto do estúdio – para suavizar, realçar e acentuar a beleza de suas estrelas. Em Lírio Partido, a face da imortal Lillian Gish literalmente resplandece com um brilho apaixonante e sobrenatural, ofuscando todos os demais elementos em cena. A beleza deste filme deve ser apreciada, pois ela é verdadeiramente formidável. Gish e seu companheiro de cena, o excelente Richard Barthelmess, flanam atormentados por uma paisagem londrina definida por névoa, travessas iluminadas por luzes soturnas e enigmáticos cenários 'orientalistas'. A simples história de amor proibido do filme é perfeitamente complementada pela cenografia deslumbrante e misteriosa, concebida por Joseph Stringer. Lírio Partido é um filme único. A colaboração entre Gish e Griffith é uma das mais frutíferas do cinema americano: os dois também trabalharam juntos em O Nascimento de uma Nação, Órfãos da Tempestade e Inocente Pecadora, além de outras dezenas de curtas. Certamente, essa é uma parceria diretor-ator que se iguala às de Scorsese-De Niro, Kurosawa-Mifune e Leone-Eastwood, para citar algumas; na verdade, ela serve de modelo para julgar todas as outras. Griffith alcança um equilíbrio perfeito entre a banalidade do enredo e a exuberância maltrapilha da produção (a maior parte do filme se passa em casas de ópio e espeluncas do cais do porto). É preciso um diretor talentoso e confiante para manipular uma dicotomia forma/conteúdo como esta, e o que se vê aqui é Griffith no auge das suas habilidades. É a tensão entre o cotidiano e o extraordinário que conduz Lírio Partido, garantindo seu lugar na história do cinema."

THE KOBAL COLLECTION

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"Griffith inventou o rosto no cinema, na medida em que fez dele uma arte, como fez com a montagem paralela."

Tag Gallagher, Raoul Walsh, Senses of Cinema, julho 2002

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