segunda-feira, 18 de maio de 2009

Coisas Secretas (2002) - Jean-Claude Brisseau



« Coisas Secretas é de um lirismo perturbador, é uma seta sombria na paisagem do cinema francês. E também uma tentativa rara e rigorosa de tentar juntar, em pouco menos de duas horas sombrias e vivas, um sem fim de desejos, de pistas e de visões. Hitchcock e Sade, Marx e Marc Dorcel, Edgar Allan Poe e Bresson, o filme de empresa irônica e a grandiloqüência discreta dos movimentos dos aparelhos, a frontalidade e a sugestão fantasmagóricas, os mestres e os escravos, a loira e a morena: está tudo lá. Brisseau meteu na boca de uma das suas heroínas, a ex-striper, futura secretária Nathalie (Coralie Revel, que já nos tinha enlouquecido com o seu olhar triste em Les Savates du Bon Dieu), o programa minimal e megalômano do seu cinema: "Ousa!". Não é só uma palavra qualquer. É sim um mini-manifesto, clownesco e radical. Nada de mais sério, portanto.

A quem é que Nathalie diz isso? A Sandrine, empregada na boîte em que as duas se tentam safar, e que se muda para casa dela depois de ter "ousado", ou seja ter chegado ao orgasmo acariciando-se à frente dela. O segredo magnífico do filme é então revelado. É o sexo das mulheres. É o que elas fazem, sozinhas ou a dois, o que nós lhes podemos eventualmente fazer (olhar, tocar?). (...) Coisas Secretas conta a história necessariamente violenta de uma perturbação, e as simulações, reviravoltas, e vertigens que ela provoca. »

Olivier Joyard, Les yeux bandés, Cahiers du Cinéma n° 572, outubro 2002

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores

Arquivo do blog