sábado, 9 de maio de 2009

A Marca da Maldade (1958) - Orson Welles





Um homem da Renascença

Essas considerações nos conduzem naturalmente a definir a originalidade de Welles em um só tempo como criador e como personalidade.

Welles é um homem do século XVI, ou mais precisamente um homem da Renascença. Ele pertence a essa família de espíritos que abriga Maquiavel, Cervantes, Montaigne e Shakespeare. Plasticamente é aos grandes barrocos a que deve ser filiado (à condição de que se inclua Tintoretto, Rubens e Bernini, El Greco). Ele ressuscita essa ética da virtude, elaborada no século XV italiano e tão magistralmente encarnada por Malatesta, Baglioni e César Bórgia. Na realidade essa ética não pertence exclusivamente ao início do século XVI, ela encontra sempre em todas as épocas da história representantes, mas só se desenvolve verdadeiramente nas civilizações próximas de seu declínio. E, se ela é a afirmação orgulhosa de um estilo de vida, ele é também e mais profundamente o questionamento de um sistema de valores comumente aceito.

(...)

Os esplendores da arte barroca

Welles deste modo nos ofereceu, em uma obra muito curta para nosso bel-prazer, uma soberba galeria de monstros se agitando em um mundo frenético, muito próxima do universo concentracionário que A Marca da Maldade relembra com insistência. Mesmo que nós possamos ter por esses monstros uma atração, na medida em que exprimem uma virtualidade presente em cada um de nós, nosso espírito deve condená-los sem apelo. Eles permanecem, qualquer que seja a grandeza de seus destinos, heróis de melodrama e é precisamente isso o que Welles após Shakespeare entendeu bem. Para retraçar essa história onde se afrontam eternamente em um combate duvidoso a sombra e a luz, Welles utiliza à maravilha os esplendores da arte barroca.

Jean Domarchi, Welles à n'en plus finir, Cahiers du Cinéma n° 85, julho 1958

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