sexta-feira, 15 de maio de 2009

Roleta Chinesa (1976) - Rainer Werner Fassbinder



"Destes grandes mestres do cinema narrativo, Fassbinder conserva precisamente o gosto da narração, o prazer de contar. Porque é antes de tudo um narrador.

De Raoul Walsh e Howard Hawks, Fassbinder terá conservado, como outrora Hergé, a concisão do corte de seqüências segundo o modelo 'oito-quatro-dois', princípio intangível da construção de cenas ao qual não renunciará jamais, seja qual for por outra parte a evolução da composição formal da imagem, frontal ou em profundidade, com ou sem dinâmica entre os primeiros e segundos planos. Qualquer cena, concebida em um plano de conjunto desde o princípio, se desenrola mediante uma divisão em dois deste enquadramento, logo em uma nova divisão em dois do enquadramento assim obtido, e assim sucessivamente até esgotar todos os componentes da cena (diálogo, cenário, personagens). Com algumas variantes, o modelo é sempre o mesmo. As variantes afetam essencialmente a introdução e a saída das cenas. Algumas vezes começam, como já dissemos, por um plano geral que à continuação vai se reduzindo, dividindo-se em dois; outras vezes, se introduz esse plano geral mediante a entrada em cena de um personagem, moldando-se ao seu deslocamento a reproduzindo ao mesmo tempo a visão subjetiva da encenação. A encenação da cena de Roleta Chinesa, na qual o marido e a mulher, o amante e a querida estão sentados à mesma mesa, é introduzida e se encerra através de um travelling circular que reproduz a entrada e saída do aposento de Brigitte Mira, que vem servir a sopa. Às vezes a subdivisão do plano geral acaba em uma inserção, um close de um objeto, uma janela, uma batente, um espelho, um quadro, pretexto para introduzir a cena seguinte (cf. Despair). Este plano de corte corresponde ao resto das sucessivas divisões de enquadramento, quando já se disse tudo e todos os protagonistas, todos os atores da cena, já saíram do campo. O corte segundo o modelo 'oito-quatro-dois' permite uma subjetivização máxima das cenas, porque cada divisão remete ao olhar de um ou vários protagonistas; além do mais mantém um equilíbrio harmonioso entre o gesto e a palavra, entre os diálogos e ação, porque ao basear-se em uma divisão da ação por meio dos diálogos, encontra-se exatamente no ponto de encontro entre ambos. Por último, como montagem prévia, clara e coerente das cenas na filmagem, propõe um apreciável ganho de tempo na hora de se realizar a montagem."

Yann Lardeau, Rainer Werner Fassbinder, edições Cahiers du Cinéma, 1990

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